Muitas vezes eu não vejo sentido nas coisas que eu faço.
Acredito que ou caí na rotina da vida moderna ou esqueci completamente de como é sentir o que realmente se vive... Acostumei a uma situação que não é cômoda e nem confortável. Simplesmente estou vivendo como as centenas de pessoas que encontro todos os dias nos trens, nas ruas, nos bares...
Há ainda, aqueles indivíduos que palestram sobre a salvação, sobre valores que se construiram a partir de intenções contestáveis, a fuga da solidão, a válvula de escape quando se perde a sanidade... Para mim, tudo remete ao mesmo fim.
Nada.
A verdade é que eu já acreditei em muitas coisas... Minha vida sempre fluiu em um ritmo inconstante, graças a minha sede por resposta - apesar de tantas vezes nem saber de onde vem tanta vontade...
Muitas vezes, tento procurar as respostas que podem preencher esse vazio no lado místico da vida, na maioria delas, eu acabo caindo nos seus dizeres.
Ou então, acabo voltando as decepções do passado, para quando olhar pra trás, conseguir sentir algo e perceber que nem sempre foi tão ruim como é.
Acabo me contradizendo nos meus atos, entretanto...
Se vivo mergulhada nesse tamanho vazio, porque tanto ódio? Tanta revolta? Tanta vontade de viver e se provar?
Seria isso um reflexo do que não pude fazer em tantos passados voltando agora em um corpo jovem?
Ou seria apenas um estado de inquietude quando se vê que não se tem nada mais do que agir dessa maneira?
A única parte de mim que exclama sem nenhum ponto de interrogação é a paz que não consigo alcançar.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Poesia da solidão de uma mulher contemporânea.
Desilusão, intolerância, ansiedade.
Entre esses caminhos tortos, atravessando as curvas, olhando pelas janelas de ônibus, trens, metrôs, carros, transportes... Caminhar, correr, andar, esperar.
Entre os intervalos de horas que vencem o dia, executando e pensando... Enlouquecer, protestar, violentar, ofender, gritar, fingir, mentir.
Entre os suspiros dados, sentir. O cheio do rio, podre. O cheiro do mendigo, lamentável. O perfume da mulher ao lado, lembrança.
Entre os ruídos da cidade, uma voz ausente. Ecoando, permanecendo, repetindo, confundindo.
Atrapalha-se a vista. Não é possível viver sem procurar o teu passo, teu intervalo, teu aroma, tua voz, teu corpo.
Lamenta-se...
Sente-se falta.
Falta.
Falta bem mais do que somente uma presença. Falta em mim, eu falto. Não compareço.
A primavera passa e o verão já bate a porta. Solidão, sinônimo.
Entre as clavículas e decotes de vestidos, procuro a marca que gostaria de ter deixado.
Entre esses caminhos tortos, atravessando as curvas, olhando pelas janelas de ônibus, trens, metrôs, carros, transportes... Caminhar, correr, andar, esperar.
Entre os intervalos de horas que vencem o dia, executando e pensando... Enlouquecer, protestar, violentar, ofender, gritar, fingir, mentir.
Entre os suspiros dados, sentir. O cheio do rio, podre. O cheiro do mendigo, lamentável. O perfume da mulher ao lado, lembrança.
Entre os ruídos da cidade, uma voz ausente. Ecoando, permanecendo, repetindo, confundindo.
Atrapalha-se a vista. Não é possível viver sem procurar o teu passo, teu intervalo, teu aroma, tua voz, teu corpo.
Lamenta-se...
Sente-se falta.
Falta.
Falta bem mais do que somente uma presença. Falta em mim, eu falto. Não compareço.
A primavera passa e o verão já bate a porta. Solidão, sinônimo.
Entre as clavículas e decotes de vestidos, procuro a marca que gostaria de ter deixado.
sábado, 30 de outubro de 2010
Ontem sonhei com você. Já quase não me lembro dos pormenores, só sei que nos transformávamos
continuamente um no outro, eu era você, você era eu. Finalmente, não sei como, você pegou fogo, lembrei-me que é possível apagar o fogo com panos e assim bati em você com um velho paletó. Mas as metamorfoses recomeçaram e de repente você desaparecia, era eu que ardia e também eu que me batia com o paletó. Mas de nada adiantava, só confirmava meu velho temor de que esses métodos nada podem contra o fogo. No entretempo chegaram os bombeiros e de algum modo você foi salva.
Mas agora você era diferente, da a giz escuro, e fantasmagórica, como se desenhada a giz escuro, e caiu-me nos braços sem vida, ou talvez tenha apenas desmaiado de alegria por ter sido salva. Mas ainda aqui atuava a incerteza da transformação, talvez eu mesmo tenha caído nos braços de alguém.
(Sonhos, de Franz Kafka)
domingo, 3 de outubro de 2010
Vem, vambora...
Eu quero a nossa vida em um apartamento no Alto de Pinheiros, almoços de domingo em pequenos restaurantes da Bela Vista, flores e suco de laranja ao acordar. Vou aprender a tocar aquela canção e escrever aquele roteiro pra tentar fazer algum dinheiro... E quando o filme estiver em cartaz em algum cinema do centro da cidade, largue tudo e venha escutar o "eu fiz para você" que vou te dizer.
Envolva seus braços no meu corpo quente em plena Avenida Paulista. Beije-me atrás de um muro pichado. Me ame pela primeira vez e estenda os segundos à minutos, horas...
Me surpreenda sempre com os pequenos gestos que falam mais do que todas as convenções implicadas nesse mundo...
Traga todas as suas inseguranças tolas que só reafirmarão que eu sou sua, que eu sempre fui sua.
Me prove que a tua presença é viva e nunca mais me deixe apenas a sua memória...
É duro demais viver quando eu morri em nós.
Envolva seus braços no meu corpo quente em plena Avenida Paulista. Beije-me atrás de um muro pichado. Me ame pela primeira vez e estenda os segundos à minutos, horas...
Me surpreenda sempre com os pequenos gestos que falam mais do que todas as convenções implicadas nesse mundo...
Traga todas as suas inseguranças tolas que só reafirmarão que eu sou sua, que eu sempre fui sua.
Me prove que a tua presença é viva e nunca mais me deixe apenas a sua memória...
É duro demais viver quando eu morri em nós.
"Não lhe peço nada
mas se acaso você perguntar
por você não há o que eu não faça
Guardo inteira em mim
a casa que mandei
um dia
pelos ares
e a reconstruo em todos os detalhes
intactos e implacáveis
Eis aqui
bicicleta, planta, céu,
estante cama e eu
logo estará
tudo no seu lugar
Eis aqui
chocolate, gato, chão,
espelho, luz, calção
no seu lugar
pra ver você chegar"
pelos ares - adriana calcanhotto
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
segunda-feira, 19 de julho de 2010
O que nela se elevava não era a coragem, ela era substância apenas, menos do que humana, como poderia ser herói e desejar vencer as coisas? Não era mulher, ela existia e o que havia dentro dela eram movimentos erguendo-a sempre em transição. Talvez tivesse alguma vez modificado com sua força selvagem o ar ao seu redor e ninguém nunca o perceberia, talvez tivesse inventado com sua respiração uma nova matéria e não o sabia, apenas sentia o que jamais sua pequena cabeça de mulher poderia compreender.
Tropas de quentes pensamentos brotavam e alastravam-se pelo seu corpo assustado e o que neles valia é que encobriam um impulso vital, o que neles valia é que no instante mesmo de seu nascimento havia a substância cega e verdadeira criando-se, erguendo-se, salientando como uma bolha de ar a superfície da água, quase rompendo-a... Ela notou que ainda não adormecera, pensou que ainda haveria de estalar em fogo aberto. Que terminaria uma vez a longa gestação da infância e de sua dolorosa imaturidade rebentaria seu próprio ser, enfim enfim livre! Não, não, nenhum Deus, quero estar só.
E um dia virá, sim, um dia virá em mim a capacidade tão vermelha e afirmativa quanto clara e suave, um dia o que eu fizer será cegamente seguramente inconscientemente, pisando em mim, na minha verdade, tão integralmente lançada no que fizer que serei incapaz de falar, sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento, eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, a consciência, eu serei como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! O que eu disser soará fatal e inteiro! não haverá nenhum espaço dentro de mim para eu saber que existe o tempo, os homens, as dimensões, não haverá nenhum espaço dentro de mim para notar sequer que estarei criando instante por intante, não intante por instante: sempre fundido, porque então viverei, só então viverei maior do que na infancia, serei brutal e malfeita como uma pedra, serei leve e vaga como o que se sente e não se entende, me ultrapassarei em ondas, ah, Deus, e que tudo venha e caia sobre mim, até a incompreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta me cumprir e então nada impedirá meu caminho até a morte-sem-medo, de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo.
Perto do Coração Selvagem - Clarice Lispector.
Toda mulher deveria ler esse livro, na minha opinião. Ou pelo menos aquelas que encontram-se perdidas... Esse é o livro daquela famosa frase da Clarice "Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome." e de tantas outras que a gente vai reconhecendo enquanto lê.
Porém, mais do que tudo isso, quero registrar o quanto esse livro significou para mim neste momento. O quanto eu me senti compreendida, humana e forte a partir de alguém que eu nem conheço. Também é engraçado registrar o quanto eu chorei quando eu terminei de ler o livro. Cena cômica para quem via de fora, uma pessoa fechando um livro no meio de um trajeto de um ônibus qualquer da imensa terra da garoa. hum...
Clarice é simplesmente Clarice, né.
Tropas de quentes pensamentos brotavam e alastravam-se pelo seu corpo assustado e o que neles valia é que encobriam um impulso vital, o que neles valia é que no instante mesmo de seu nascimento havia a substância cega e verdadeira criando-se, erguendo-se, salientando como uma bolha de ar a superfície da água, quase rompendo-a... Ela notou que ainda não adormecera, pensou que ainda haveria de estalar em fogo aberto. Que terminaria uma vez a longa gestação da infância e de sua dolorosa imaturidade rebentaria seu próprio ser, enfim enfim livre! Não, não, nenhum Deus, quero estar só.
E um dia virá, sim, um dia virá em mim a capacidade tão vermelha e afirmativa quanto clara e suave, um dia o que eu fizer será cegamente seguramente inconscientemente, pisando em mim, na minha verdade, tão integralmente lançada no que fizer que serei incapaz de falar, sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento, eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, a consciência, eu serei como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! O que eu disser soará fatal e inteiro! não haverá nenhum espaço dentro de mim para eu saber que existe o tempo, os homens, as dimensões, não haverá nenhum espaço dentro de mim para notar sequer que estarei criando instante por intante, não intante por instante: sempre fundido, porque então viverei, só então viverei maior do que na infancia, serei brutal e malfeita como uma pedra, serei leve e vaga como o que se sente e não se entende, me ultrapassarei em ondas, ah, Deus, e que tudo venha e caia sobre mim, até a incompreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta me cumprir e então nada impedirá meu caminho até a morte-sem-medo, de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo.
Perto do Coração Selvagem - Clarice Lispector.
Toda mulher deveria ler esse livro, na minha opinião. Ou pelo menos aquelas que encontram-se perdidas... Esse é o livro daquela famosa frase da Clarice "Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome." e de tantas outras que a gente vai reconhecendo enquanto lê.
Porém, mais do que tudo isso, quero registrar o quanto esse livro significou para mim neste momento. O quanto eu me senti compreendida, humana e forte a partir de alguém que eu nem conheço. Também é engraçado registrar o quanto eu chorei quando eu terminei de ler o livro. Cena cômica para quem via de fora, uma pessoa fechando um livro no meio de um trajeto de um ônibus qualquer da imensa terra da garoa. hum...
Clarice é simplesmente Clarice, né.
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