Acordei tentando descobrir aonde eu estava. Os pequenos raios de sol que começavam a invadir o local mostravam-me que o dia estava amanhecendo. Provavelmente umas seis e meia ou sete horas... Realmente, eu não me importava.
Eu olhei para o lado, o monte de cigarros fumados dentro do cinzeiro e as garrafas de vinho vazias habitavam o quarto junto com a minha presença. Com certeza, eu sabia aproveitar a minha solidão. Grunhindo, eu comecei a procurar a minha camiseta, sentindo o ar gélido da manhã entrar em contato com a minha pele por causa da janela aberta.
Achando um cigarro dentro do bolso esquerdo da minha calça, eu o ascendi, tragando rapidamente, sentindo o efeito da nicotina correr pelo meu corpo instantaneamente.
Suspirei.
Eu estava em um cômodo não muito grande, um saco de dormir encontra-se no meio do recinto, ao lado deste havia uma grande mochila, onde roupas sujas e limpas transbordavam pela sua abertura. Andei lentamente até a porta da saída, abrindo-a facilmente. A visão de um extenso campo me tomou assim que ela estava aberta, e de repente eu começava a me lembrar de como eu havia parado ali.
Realmente, é uma tarefa sem fundamento algum. Não havia sentido em continuar pensado nas coisas que haviam me trazido ao lugar em que eu estava no momento. A vida nunca te dá chance para pensar. Você tem que agir, mergulhar de cabeça. Viver. Apenas viver a porra da sua vida.
Eu tinha a fúria em meus passos, mágoa no olhar e vontade de continuar avançando em minhas pernas. Essas eram as partes intactas do meu ser... Ou melhor, não somente essas. O meu corpo em si era o meu ponto de salvação, o meu ponto de força... Porque tudo que eu tinha dentro de mim fora destruído e posteriormente, reprimido até o ponto em que nada existe. Tenho um vácuo no meu peito e na minha cabeça. Continuo por querer saber a merda do MEU final porque... Não há sentido em desistir agora e ter um fim completamente fodido por causa das ações de um outro alguém.
Se eu tinha sido estúpido o bastante pra deixar alguém foder com a minha vida daquele jeito, então eu teria que, no mínimo, ser um pouco esperto e continuar andando sem parar e sem abaixar a minha cabeça. Não somente para mostrar a todos que vocês não me derrubaram, mas para não deixar todos esses anos terem sido vividos em vão. A vida não pode ser desperdiçada, parceiro. Nem os momentos que foram, nem os que são e nem os que serão.
Eu me recusava a aceitar a idéia de que a vida acabaria daquele jeito. Eu me recusava a aceitar que outras pessoas e outros fatores que não partiram de mim tinham afetado e destruído a minha vida, porque... Você quer saber de uma coisa? Ninguém pode fazer isso. Você tem tudo em suas mãos e a intensidade não deve ser dosada.
Eu não uso mais as minhas doses de paciência e de gestos pré-estabelecidos. Também não visto o personagem de mais um garoto revoltado, querendo agir estupidamente apenas para chamar atenção. Esse não era o meu caso...
Caro leitor, o meu caso é a vida. Eu queria viver! Eu queria viver tudo o que eu posso e quero ser. Eu queria ver que o que acontecia dependeria de mim e assim, eu não precisaria de mais ninguém... Porque as pessoas simplesmente acabaram comigo. E se existe algo para se revoltar, seria contra todos vocês.
A minha solidão não é vulgar e não é forçada. Eu só quero que ela seja respeitada. É claro que as necessidades vitais da carne me levaram a cometer atos que podem parecer de um caráter distinto ao que eu assumi. Mas, eu não me importo nem um pouco... Não me importo porque você nunca vai saber a minha resposta, amigo.
Você nunca vai saber qual é a minha intenção, e é desse jeito que eu gosto de jogar. Não, não, não... Não quero e nem pretendo te iludir porque... Bem, cada um sabe dos seus atos. Se você toma a decisão de acreditar no que eu falo e mostro a você, o problema é exclusivamente seu.
É um grande egoísmo? É.
É o que eu adotei para mim, porque... É o que eu puramente sou. E o que eu sou... Não entraria nos padrões de beleza que você estabelece a si mesmo e ao mundo todos os dias. Enquanto você fica molhado, eu estou mergulhando e afundando cada vez mais. A água que agora você tenta tirar do seu corpo, são os respingos do meu salto em direção a...
Em direção a...
A...
Felicidade.

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