Discutíamos à horas... Estávamos do lado de fora do bar, a música era tão alta que chegava ser difícil ter uma conversa em um tom normal. Ela me olhava irritada, colocando toda a mágoa e fúria no olhar. Eu estava parado, encarando-a, pensando em que merda eu poderia fazer para ela tentar entender o meu ponto... Ou melhor, a falta dele.
- É isso que você faz então? - ela perguntou, depois de respirar fundo. - Você simplesmente fode com tudo sem considerar nada e nem ninguém?
Eu bebi um pouco da cerveja que eu tinha em mãos. Acalmava um pouco. Só um pouco.
- Isso não tem nada a ver com o que eu faço, querida. - eu simplesmente respondi, sentindo que eu não poderia ser mais claro do que eu estava sendo. Pessoas. Quão complicadas elas conseguem ser e quantas complicações elas conseguem inserir dentro de cada coisa existente?
- Ah é? Então o que foi aquela merda lá dentro? - ela gritou, apontando para o bar. - Eu tô cansada de você e das coisas que você continua fazendo. Você não me respeita, você não se respeita! Eu já devia ter aprendido, mas não... Eu sou a idiota da história porque eu continuo do seu lado!
- Quando eu não te respeitei? Me fala isso. Sério, porque... Eu acho que está faltando um pouco de clareza aqui. - eu suspirei. - Eu arrebentei a cara dele, eu arrebentei sim e faria de novo. Eu te falei tudo aquilo sim e falaria de novo.
- Você não tem o direito...
- Porque não? - eu indaguei arregalando os olhos. - Quem é você pra me dizer o que eu posso e o que eu não posso fazer, hein? Quem é você, garota?
- Porque você está agindo feito a merda de um namorado ciumento! Mas, adivinha só... Você não chega nem perto de ser isso! - ela gritou em resposta, encostando o dedo indicador no meu peito.
-Ok. Ok. Tá certo. Eu entendo o seu ponto.
Ela não disse nada dessa vez. Ficou me olhando com aquela cara... Aquela cara de desgosto. E isso, meu amigo, era algo que eu não suportava. Cada um entende a história de uma maneira. Eu entendo da minha... Você pode entender de outro jeito. Mas, não mostre desgosto... Porque todo ser humano tem o direito em pensar de um modo e ter pelo menos respeito por isso.
- Não me olha com essa cara... - eu disse, começando a sentir os meus nervos aflorarem. Eu não queria isso, por favor, tudo menos isso...
- Você me ama? - ela perguntou, levantando as sobrancelhas. O olhar de desgosto havia ido embora e dessa vez, havia apenas tristeza.
- A gente já teve essa conversa... - murmurei. Esse ponto de novo não, por favor, de novo não...
- Sim e eu não obtive resposta. - ela simplesmente disse.
- E se eu amar? O que você vai fazer? - eu perguntei, chegando mais perto dela. Ela deu um passo para trás, assustando-se com esse simples movimento. - Não, não! Nem precisa responder... Você vai embora. Você anseia tanto pelas minhas respostas e quando eu chego a dá-las ou pelo menos chego perto desse caminho, você dá um passo para trás... E ainda me acusa SEMPRE pelas coisas que acontecem ao nosso redor. Porque é muito fácil livrar a própria cara, não é mesmo? É sempre muito fácil!
Ela não dizia nada, olhando-me um pouco assustada, provavelmente por causa do meu novo tom de voz. Bem, ela pediu por isso.
- Você não entende? Eu não posso me submeter a isso de novo... Você sabe o que aconteceu comigo antes e você sabe que não pode acontecer de novo porque... Me destruíria. E eu não posso dar esse poder para ninguém. Não novamente. - eu suspirei, tentando reprimir as emoções que pareciam estar emergindo de um lugar que deveria estar fechado. Que não deveria existir. - E você me assusta. Você me assusta tanto e as vezes eu tenho vontade de dar tudo isso à você. Mas, em momentos como esse e aquele ali dentro do bar, eu percebo que eu tenho que fugir de você. Porque você é a ameaça de tudo aquilo que eu quero evitar.
- Eu não posso... Eu... - ela tentava dizer a resposta que eu já sabia a tanto tempo. Era inútil, não era? Tentar explicar algo que já estava esplícito e que nós estávamos apenas ignorando... Com medo de que esse momento finalmente chegasse. O momento da despedida. Mais uma morte dentro de mim.
- Não fala nada. - foi tudo que eu disse. Eu comecei a dar os primeiros passos, andando para trás. Eu a olhei pela última vez. Ela tinha lágrimas nos olhos e me olhava com... Pena. O pior olhar que eu poderia receber naquele momento. - Eu espero que você consiga achar aquele cara e continue o que você estava fazendo antes de eu interromper. Mais uma noite sem compromisso, não é? É. É isso que a gente faz, querida.
Eu virei, sentindo o olhar dela colado nas minhas costas. Comecei a andar mais rápido.
Já era tarde. Eu levaria pelo menos meia hora para arrumar a minha mala porque eu já sabia de tudo que eu iria precisar. Estava na hora de ir embora daquele lugar horrível, onde tudo que me acontecia não era real. Ninguém tinha a capacidade de fazer a realidade existir. E eu não poderia continuar lutando para que as pessoas o fizessem. Se eu queria tanto ver a verdade em cada ato, gesto e palavra... Eu teria que viver sozinho.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
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